Carta do Sr. Presidente da Câmara de Grândola, Dr. Carlos Beato, endereçada ao director da Revista Visão, Dr. Pedro Camacho
Nota de Imprensa:

Na sequência do artigo “ O Sócrates que há em nós” da autoria de Miguel Carvalho, publicado na edição da Revista Visão nº 892 de 8 a 14 de Abril de 2010, enviamos em anexo carta do Sr. Presidente da Câmara de Grândola, Dr. Carlos Beato, endereçada ao director da Revista Visão, Dr. Pedro Camacho.
Exmo. Senhor Director da Visão
Foi com surpresa e incredulidade que, ao ler a última edição da Visão, deparei com uma foto ilustrativa de um estudo sobre “O Escândalo Político em Portugal”, em que o nome de Grândola aparece referido de um modo que considero ofensivo e absolutamente despropositado. De igual modo muitas dezenas de grandolenses me fizeram chegar a sua indignação e revolta pelo modo como a sua terra estava a ser retratada.
Estou convicto de que a imagem pretenderia fazer, apenas, um contraponto entre Grândola, símbolo da Revolução de Abril e dos valores mais nobres da Liberdade e da Fraternidade e um outro mundo, onde a corrupção e o escândalo político proliferarão. Mas não tenho dúvidas de que isso poderia ter sido alcançado sem recorrer ao primarismo exibido, ao mau gosto facilmente evitável e sem ofender uma população e uma Comunidade que continua a defender os valores de Abril e a trabalhar todos os dias para construir um Mundo mais próspero, mais justo e solidário.
A nossa indignação colectiva será, seguramente, compreensível para V. Exa. Mas peço-lhe, apenas como exercício, que imagine uma situação em que, a propósito de alguma falta de ética e de sentido deontológico de que por vezes determinada imprensa dá provas, se usasse a imagem da Visão, órgão que tem constituído uma referência muito positiva a este nível, e se colocasse a frase “Visão, um jornalismo sensacionalista e sem ética” ou “Visão, uma informação comprometida e sem credibilidade”. Estou seguro de que V. Exa. e todos os jornalistas e colaboradores dessa prestigiada publicação (inclusivamente o autor deste artigo) se sentiriam naturalmente ofendidos e injustiçados.
Sempre defendi que no direito à informação há limites que devem ser respeitados. Mas neste caso nem se trata de direito à informação, porque não há nada na notícia que tenha a ver com um caso de corrupção em Grândola ou uma situação de tratamento desigual de cidadãos. Estamos no domínio, permita-me, da “liberdade do disparate”, o que respeitaríamos se não fossem formuladas declarações extremamente ofensivas à dignidade dos grandolenses, sem qualquer propósito nem nexo.
Estou certo de que V. Exa. não deixará de compreender este nosso sentimento e de reconhecer o direito à indignação que nos assiste e que providenciará no sentido de, em próximas edições da Visão, poderem ser feitas referências a este Concelho verdadeiras e credíveis, reparando assim a injustiça feita a um Povo que todos os dias trabalha para continuar a ser um símbolo de Abril e a Grândola, que será sempre Vila Morena, Terra da Fraternidade.
Com os melhores cumprimentos
O Presidente do Município
Carlos Beato

