Região do Alto Alentejo tem enorme potencial para a produção de biocombustíveis
Comunicado Imprensa: IPP
A produção de biocombustíveis como o biodiesel, o bioetanol, o biogás e as próprias biomassas, sob a forma de pellets ou estilhas de madeira, têm vindo a registar aumentos significativos em todo o mundo, em especial em países como o Brasil, os Estados Unidos da América e regiões como a Ásia e a Europa em geral, os países do norte do continente em particular.
Em Portugal, apesar de já existirem sete fábricas de biodiesel, incluindo a biorrefinaria da GALP em Sines, e vários centros de processamento de biomassas florestais e de produção de biogás de aterros sanitários e em algumas explorações pecuárias e industriais, a produção dos biocombustíveis está ainda a dar os primeiros passos.
A região do Norte Alentejo, pelas suas caraterísticas socio-económicas e climáticas está talhada para liderar o engajamento do país na pesquisa e produção de novos combustíveis, renováveis e amigos do ambiente. Na verdade a intensidade da atividade agrícola, pecuária, agro-industrial e industrial desenvolvida na região é geradora de resíduos, em quantidade e qualidade, adequados à produção de biocombustíveis.
Por exemplo, nos países do norte da Europa, as explorações agrárias e pecuárias, usam os resíduos gerados na sua atividade para produzir biogás por digestão anaeróbia que, por sua vez, permite a produção de energia elétrica e calor para satisfazer, em grande medida, as necessidades energéticas das explorações ou até mesmo vender para as redes locais ou nacionais, contribuindo para aumentar a sua rentabilidade e reduzir as cargas ambientais associadas à atividade.
A região do Alto Alentejano possui dos maiores efetivos do país em termos de gados bovino, suíno, ovino e equino, entre outros, cujos dejetos poderão ser aproveitados para a produção de biogás. Por outro lado, as lamas das ETAR’s, as borras de café, os resíduos de queijarias, salsicharias e matadouros, podem também ser processados por digestão anaeróbia para obtenção de biogás e adubos, com redução das respetivas cargas ambientais.
Por outro lado, o clima, o perfil agrícola e as condições edáficas do território parecem ser adequados ao cultivo de plantas com interesse energético, tanto ao nível do aproveitamento direto da sua biomassa, como da obtenção do biodiesel e bioetanol.
Está-se a falar, por exemplo, de plantas como a piteira, cujo fruto, o “figo da Índia”, permite a obtenção de bioálcool, para além de doces, sumos, bebidas alcoólicas e outros produtos alimentares, enquanto que o cladódio (“folha”) pode também ser aproveitado, tanto na alimentação humana como na animal, para além da produção do biogás por digestão anaeróbia.
Outro exemplo é a produção de microalgas para a qual a região possui as condições de insolação e temperaturas adequadas. Para além do biodiesel e biogás, as microalgas permitem também alcançar uma extensa gama de produtos que vão desde alimentos e medicamentos e produtos cosméticos de elevado valor comercial.
Em abono da verdade, deve-se salientar que a região não é completamente inexperiente no campo da produção de biocombustíveis. Por exemplo, a Valnor. S.A, a empresa de tratamentos de resíduos da região, já produz e consome, para as suas necessidades energéticas, biogás por digestão anaeróbia da parte orgânica dos resíduos que trata. Por outro lado, o biodiesel que a empresa produz com base nos óleos de fritura recolhidos na região, permite-lhe suprir cerca de 30 % das necessidades de combustível da sua frota de camiões.
No campo da investigação e do conhecimento do potencial energético da região, em termos de bioenergias, a Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Instituto Politécnico de Portalegre (IPP), juntamente com outras instituições da região, tal como a AreanaTejo (Agência para a Energia do Norte Alentejo), tem dado um contributo significativo através do estudo das características de gasificação e combustão de diferentes biomassas da região bem como o mapeamento das suas fontes no território.
Sentindo essa necessidade a ESTG do IPP tem vindo a desenvolver uma estratégia consistente de investigação, desenvolvimento e formação na área das energias renováveis, em particular das bioenergias, através da criação da licenciatura em Engenharia das Energias Renováveis e Ambiente e do Mestrado em Tecnologias de Valorização Ambiental e Produção de Energia e, mais recentemente, da licenciatura em Tecnologias de Produção de Biocombustíveis (primeiro e ainda único no país!) e ainda do seu “Projeto Bioenergias”, cujas instalações físicas, baseadas em plantas piloto de demonstração de tecnologias de produção de biocombustíveis, já em construção no seu campus.
Este projeto visa, sobretudo, apoiar os empresários da região na concretização de investimentos de produção de biocombustíveis, à escala das explorações agrícolas ou pecuárias (“farm scale”) para aproveitamento dos resíduos gerados ou para auxiliar os empreendedores da região a integrar este movimento de procura de novos combustíveis renováveis para substituir os combustíveis fósseis, mais poluentes, em esgotamento crescente e por isso cada vez mais caros, produzindo simultaneamente produtos químicos de valor comercial, ao mesmo tempo que se reduz a carga ambiental que os resíduos representam.
Pensa-se que o “Projeto de Bioenergia”, de incubadora de empresas na área das bioenergias, juntamente com a oferta formativa nas áreas das energias renováveis e tecnologias de produção de biocombustíveis poderá contribuir para a formação dos quadros médios e superiores que permitirá impulsionar a nova “economia verde” de que a região tanto necessita.

