Castelo de Beja viaja até à Idade Média
Luís Miguel Cintra – Prémio “Melhor Actor de Teatro” da Sociedade Portuguesa de Autores 2012 – subiu ao palco, em vésperas do dia de Portugal, acompanhado pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, sob a direcção musical de João Paulo Santos. O castelo de Beja foi o pano de fundo para a recitação, por Cintra, da Ode a Napoleão Bonaparte, de Lord Byron, e de Guzmán el Bueno, de Tomás de Iriarte (em estreia nacional).
A noite fresca não impediu que a praça de armas da fortaleza, transformada para a ocasião, se enchesse para um dos pontos altos do 8.º Terras sem Sombra. Do romantismo melancólico de Byron, em língua inglesa, ao dramático “melólogo” do Guzmán de Tomaz de Iriarte, em castelhano, Luís Miguel Cintra interpretou com mestria, em precursora união com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, duas obras-chave da música europeia. A ousadia do programa deve-se ao mentor do plano artístico do Festival, Paolo Pinamonti que, mais uma vez, colocou o Alentejo no mapa europeu de festivais do seu género.
O Terras sem Sombra, que se encontra a 15 dias do espectáculo de encerramento do ciclo de 6 concertos – a ter lugar no dia 23 de Junho, em Castro Verde – “soma e segue”, promovendo ainda, nesta ocasião, a primeira tradução, no nosso país, das duas obras interpretadas, disponível agora em livro editado pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja.
Sob o título, muito apropriado, “Oh Nobre Liberdade!”, o espectáculo encontrou no castelo de Beja o cenário perfeito, levando o público através de uma viagem pela história de Portugal e da capital do Baixo Alentejo. José António Falcão, director-geral do Festival, antecedeu as três pancadas Molière com uma introdução histórica ao espaço, evocando alguns factos determinantes: durante a Revolução de 1385, o povo bejense tomou o partido do Mestre de Avis e assenhoreou-se do castelo, matando em seguida o almirante Lançarote Pessanha, um claro e determinante sinal para a independência portuguesa. Já ao longo da Guerra da Restauração (1640-1668) os bejenses serviram de retaguarda ao exército português e na invasão francesa de 1808 estiveram entre os primeiros que se revoltaram contra Napoleão. Ainda durante a Guerra Civil de 1828-1834 destacaram-se pelo apoio ao Liberalismo e, em 1961, o quartel de Beja foi alvo de uma tentativa para derrubar o regime do Estado Novo.
A união da música erudita à história fica assim cumprida no quinto concerto que reafirmou a tónica do Festival Terras sem Sombra em relação a um compromisso para com a descentralização cultural, a dinamização dos monumentos históricos e o acesso gratuito às iniciativas do maior festival de música sacra de Portugal.
Esta iniciativa contou com a co-produção do Teatro Nacional de São Carlos e o apoio da Embaixada de Espanha, representada pelo Ministro Conselheiro, embaixador Antonio Pedrauyé, e pelo conselheiro cultural, Gaspar Díaz, e do Município de Beja. Destaque ainda para a presença, entre as diversas personalidades, do conde de Ripalda, D. Amalio de Marichalarb, Presidente do Fórum Mundial para a Sustentabilidade, de Armando Sevinate Pinto, assessor do Presidente da República para a Agricultura e o Mundo Rural, do bispo de Beja, D. António Vitalino Dantas, do Presidente da Câmara Municipal de Beja, Jorge Pulido Valente, e do Presidente do Turismo do Alentejo, António Ceia da Silva.
Acção de defesa da Biodiversidade acolhida pela Herdade da Apariça
No dia seguinte, em colaboração com o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (Parque Natural do Vale do Guadiana), a Câmara Municipal de Beja e a Companhia Agrícola da Apariça, os músicos e a comunidade local, deslocaram-se à Herdade da Apariça (em São Matias, Beja), localizada em plena Zona de Protecção Especial de, Cuba. Ao longo de um percurso destinado a fomentar a observação de aves estepárias, como as abetardas, uma das espécies mais emblemáticas do Alentejo, realizaram-se diversas acções de gestão dirigida, como a sinalização de cercas para as aves estepárias, a construção de uma passagem para abetardas e a colocação de caixas-ninho. Foi uma forma prática de mostrar a compatibilização das actividades agrícolas com a conservação da natureza, numa altura em que “a Conservação, infelizmente, é ainda vista como um entrave ao desenvolvimento e produtividade”, rematou o biólogo João Carlos Claro.