França condecora José António Falcão com a Medalha da Juventude e dos Desportos

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José Falcão

O presidente da República Francesa, Nicolas Sarkozy, condecorou José António Falcão com a “Médaille de la Jeunesse et des Sports” (Medalha da Juventude e dos Desportos). Raras vezes atribuída a cidadãos estrangeiros, esta é a mais alta distinção francesa para recompensar as personalidades que – como se diz no decreto de Georges Pompidou que a instituiu, em 1969 – “se notabilizaram, de uma maneira particularmente honrosa, ao serviço da educação física e dos desportos, dos movimentos da juventude e das actividades socioeducativas, das colónias de férias e ao ar livre.”

Publicada no “Bulletin Officiel” do Estado Francês, a outorga da medalha ao investigador português premeia a sua intervenção no estudo do Caminho de Santiago, um trabalho que se tem traduzido, à escala europeia, na mobilização das comunidades locais para a defesa das vias de peregrinação a Santiago de Compostela. O apoio aos peregrinos, a dinamização da presença de jovens e voluntários em campos de trabalho internacionais e o resgate do património cultural e natural das rotas jacobeias são outros aspectos da obra do laureado que o governo francês quis realçar. A cerimónia de imposição da respectiva insígnia terá lugar em Lisboa, no palácio de Santos, sede da Embaixada de França, a 23 de Novembro.

José António Falcão, historiador de arte, professor universitário e conservador de museus, dirige desde 1984 o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja. Especialista de renome internacional no campo da arte sacra, deve-se-lhe a redescoberta do Caminho de Santiago no Sul de Portugal. Segundo explica num dos livros que dedicou ao tema, foi o inesperado regresso de peregrinos a terras como Odemira, Santiago do Cacém ou Moura, a partir da década de 1990, que o levou a procurar um fio condutor perdido no tempo. Encontrou-o nos arquivos, nos monumentos religiosos e na tradição oral do Alentejo e do Algarve.

Graças, em boa medida, aos esforços de Falcão e da sua equipa, o Caminho é hoje uma realidade que ganha força nestas regiões. Um número crescente de peregrinos, nacionais e estrangeiros, tem vindo a percorrer rotas há muito esquecidas, trazendo nova vida ao interior. Munidos com a compostela, o passaporte oficial do peregrino, emitido pelas autoridades religiosas, procuram igrejas, museus e juntas de freguesia para que lhes seja dado o carimbo que atesta a sua passagem em direcção à Galiza. Entre eles não falta gente famosa, como o toureiro  Ortega Cano. Mas todos seguem o Caminho irmanados por um espírito de anónima fraternidade.

Como membro da Société d’Histoire de l’Art Français, sediada em Paris, e de outras instâncias científicas, José António Falcão tem também contribuído para a divulgação da arte portuguesa em França, nomeadamente através do comissariado de exposições, entre as quais “Portugal Eternel” e “Loci Iacobi – Lieux de Saint-Jacques”. Deve-se-lhe igualmente um papel muito activo na investigação e salvaguarda dos testemunhos da arte e da cultura francesas existentes em Portugal.

A recuperação da pintura de Delacroix e de outras obras furtadas na Casa dos Patudos

O museu da Quinta dos Patudos, em Alpiarça, que foi residência de José Relvas e reúne a sua vasta colecção, sob tutela do município local, foi alvo de um espectacular assalto em 1988, levando ao desaparecimento de muitas dezenas de obras de arte, avaliadas em milhões de contos. A mais célebre destas peças é um quadro a óleo de Eugène Delacroix, que representa “A Morte de Sardanápalo”. Sobre o triste episódio, nunca esclarecido, cairia um véu de silêncio, deixando profunda mágoa nas gentes de Alpiarça.

Ao entrar em funções como conservador deste museu, cinco anos após o furto, José António Falcão fez da recuperação do espólio roubado a sua prioridade. Um trabalho discreto e persistente levou-o a identificar e documentar as peças desaparecidas através da ampliação de fotografias e da análise de inventários do tempo de Relvas, o que permitiu fornecer à Interpol dados essenciais sobre as peças subtraídas. Em simultâneo, lançou um alerta junto dos museus europeus e norte-americanos para este facto, o que viria a produzir resultados positivos.

Em 1995, a larga maioria das pinturas furtadas em Alpiarça, incluindo a famosa tela de Delacroix, foi localizada em Milão, numa igreja em ruínas que servia de esconderijo, por uma brigada especial de Carabinieri. Alguns meses depois estavam já de volta a Portugal. Este feito motivou um louvor do director do Louvre ao seu colega português, já que o museu parisiense possui outra versão, considerada a definitiva, da mesma obra, e o magno roubo de 1988 provocara consternação nos meios da especialidade. José António Falcão voltaria mais tarde, entre 2003 e 2008, a dirigir a Casa dos Patudos, onde continuou a promover a investigação e o restauro de muitas peças.

Ana Santos

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