Sines: Importância das peregrinações no turismo sustentável e no desenvolvimento regional
Projecto Ultreia debate a importância das peregrinações no turismo sustentável e no desenvolvimento regional

Sines vai ser, por um dia, a capital do turismo religioso na União Europeia. Esta cidade recebe, a 30 de Setembro, o Seminário Internacional Ultreia, consagrado à temática do cruzamento entre Peregrinações, Turismo Sustentável e Desenvolvimento Regional. Organizado pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, em parceria com a Administração do Porto de Sines e o Município local, o encontro insere-se no Programa de Cooperação Transnacional Espaço Atlântico e suscita uma reflexão alargada em torno do projecto Ultreia, que inclui Espanha, França, Irlanda e Portugal.
Numa altura em que as práticas turísticas se encontram em rápida mutação, o regresso às raízes e aos valores essenciais dos territórios é algo prioritário. Como torná-lo acessível, em termos sustentáveis, eis a questão-chave que irá ser debatida por responsáveis políticos, gestores de fundos comunitários, entidades de turismo, especialistas em património religioso, desenvolvimento regional, sustentabilidade e vida pastoral. A abertura dos trabalhos corre a cargo da Secretária de Estado do Turismo, Cecília Meireles, firme defensora da importância económica e social das rotas do turismo religioso.
Trata-se de um fenómeno que ganha, em toda a Europa, crescente peso. Isto tem-se traduzido com especial intensidade, nas últimas épocas, pelo revigorar das vias de peregrinação. Para quem toma a decisão de percorrê-las, tal constitui a afirmação não só de um sinal do regresso à vida espiritual, mas também de reencontro com a natureza, com os outros e consigo próprio. Hoje como ontem, peregrinar continua a ser um poderoso apelo à redescoberta do “ser” num mundo cada vez mais imerso na problemática do “ter”.
A peregrinação (do latim peregrinatio, “viagem em terra estrangeira”) consiste na deslocação, individual ou em grupo, a um determinado santuário ou lugar sagrado. Embora vise geralmente uma intenção religiosa, pode estar também associada a muitas outras motivações. De facto, a prática da “viagem sagrada” encontra-se difundida como meio de renovação espiritual e social. Nos nossos dias é também uma importante via de aproximação ao património cultural e natural, como se torna cada vez mais patente em diferentes pontos da fachada atlântica.
Defrontamo-nos com uma realidade que aumenta incessantemente, como uma bola de neve. Sem esquecer a sua matriz primordial, o turismo religioso tem efeitos multiplicadores e oferece uma porta franca para vastos territórios europeus. O Caminho de Santiago, declarado Primeiro Itinerário Cultural Europeu e Património da Humanidade, atravessa uma fase de grande dinamização. Sucede o mesmo com os itinerários marítimos e terrestres que o completam, utilizados há muito pelos peregrinos do Mont-Saint-Michel, na região francesa de La Manche, ou dos santuários de São Patrício, na Irlanda.
Esta rede internacional é colmatada por um vasto conjunto de peregrinações nacionais, mas dela fazem também parte inúmeras romarias, de carácter mais regional e local. Independentemente da distância a percorrer até ao destino, as rotas utilizadas pelos peregrinos constituem referências da identidade comunitária e assumem papel destacado na vida das populações, gerando dinâmicas, internas e externas, muito significativas. De facto, os reflexos dos caminhos de peregrinação no desenvolvimento dos diversos territórios por eles atravessados, quer rurais, quer urbanos, apresentam crescente relevância.
O projecto Ultreia assume-se como um espaço de cruzamento de acções-piloto para a valorização do turismo religioso, na óptica da sustentabilidade. Promovem a iniciativa, além do Departamento do Património da Diocese de Beja, a Secretaria Xeral para o Turismo da Xunta de Galicia, a Fáilte Ireland (Autoridade Nacional de Turismo da Irlanda), o Conseil Général de La Manche e o Município de Valença. Em Sines serão dadas a conhecer as linhas de força do trabalho já realizado, no âmbito do espaço atlântico, ponto de partida para a reflexão sobre o incremento das peregrinações numa “sociedade global” e os desafios que daí resultam.
Sines faz parte da rota de peregrinação marítima a Santiago de Compostela. Desde os finais da Idade Média que o seu Hospital do Espírito Santo deu guarida a inúmeros peregrinos em direcção à Galiza, mas também a Jerusalém e a Roma. O porto de Sines, ponto de visita obrigatório nos itinerários de navegação ao longo da costa atlântica, está tradicionalmente ligado a importantes vias terrestres de peregrinação, como a que sulcou a costa alentejana, unindo Odemira, Santiago do Cacém, Grândola e Alcácer do Sal. Por aqui discorreram, ao longo dos séculos, peregrinos vindos da bacia do Mediterrâneo, da Andaluzia e das Ilhas Britânicas.

